“Ter medo de sofrer é aceitar sofrimento constante. Libertar-se do medo é tomar consciência de que o constante se pode tornar variável, podendo até tornar-se nulo.
O medo magoa, está lá sempre a lembrar que existe, impedindo palavras, ações, sentimentos, pela certeza da permissão deles o poder anular, pois isto é o que se sobrepõe à ilusão que o medo cria. É o oposto da fé que pacientemente toma o seu lugar, destruindo-o para sempre.
O medo é ilusão. Se algo nos assusta deve ser afastado. Se temos em nós uma sensação como que de um aviso, devemos tomar as ações necessárias para que a situação não se manifeste, mas nunca entrar em sintonia com o medo. E isto até é fácil de identificar, na maioria das vezes sabemos de que temos medo e porquê.
O medo de sofrer está subjacente a todos os outros medos mas neste caso refiro-me mais especificamente aos sentimentos. Na minha opinião não há nada que magoe mais do que a constante lembrança da oportunidade perdida. Não amamos, não nos entregamos por causa desse medo e por causa do julgamento dos outros pelo fracasso, mesmo sem saber se será um fracasso.
Admiro secretamente os inconformados, aqueles que não se acomodam e que, contra tudo e contra todos, vão em busca do que os faz vibrar, independentemente da hipótese do fracasso, pois não há como saber se não for experimentado. Com certeza estes não tem medo de sofrer e se tem, a vontade de serem felizes supera-o. A opinião dos outros, para estes, não passa disso mesmo, de uma opinião, e estão conscientes que não são o que os outros veem neles, são o que sentem e por aí se movimentam. São os que tomam as rédeas da própria vida.
Os que julgam, muitas vezes é pela noção da falta de coragem para ser assim, é porque querem o outro na sua equipa, para que nunca se destaque, nunca seja um exemplo pois se o for provará o fracasso de quem não tentou e se tenta convencer de que decisão mais certa não poderia existir ou, no pior caso, que não havia outra hipótese. Mas há sempre, se quisermos, se procurarmos e principalmente se acreditarmos que merecemos ser felizes, tudo isto de uma forma consciente, lúcida e ponderada.
O medo de sofrer vem sempre da falta de amor próprio pois quem se ama não deixa lugar para isso, acredita sempre que está a lutar para ser mais feliz e para fazer feliz alguém. Só o amor combate o medo.
A felicidade não está à nossa espera ao virar da esquina, é preciso irmos ao seu encontro pois ainda que estivesse, só ao dobrar a esquina seria encontrada. É preciso arriscar e o que se arrisca, na maior parte das vezes, não é nada. Como alguém já disse, pode-se responder à pergunta "e se eu cair?" com outra pergunta "mas... e se voares?"
Fernanda Cruz