“Aos poucos todos se apercebem que a realidade manifestada é diferente da sentida, mas quantos estão preparados para assumir o que realmente são e sentem?
A força da vida projeta-nos em direção a alguns caminhos que nem tínhamos equacionado. Prega-nos rasteiras que não compreendemos, mas depois de passar as consequências delas, se estivermos atentos, constatamos o quanto mudamos por causa disso. Aquilo que nos intriga é isso mesmo: porque é que só depois de um abalo ou tropeço da vida passamos a ver tudo com outros olhos e a dar valor ao que realmente é importante? Claro que há hipótese chegar aí sem passarmos por estas lições mas normalmente não o conseguimos.
Nas escolhas, quase sempre se entra em consideração com o que os outros vão pensar. Mas o que é que isso realmente conta para a nossa felicidade? E pior do que isso, às vezes fazemos juízos errados. Achamos que vamos ser julgados mas na realidade esse julgamento é nosso, se essas outras pessoas ainda nem se pronunciaram. Somos sempre nós os causadores destas manifestações porque só considerarmos essas hipóteses se não estivermos seguros da escolha.
Fazemos ou deixamos de fazer certas escolhas em função de algo que é uma ilusão, em função do ego, do orgulho ou de pessoas que de repente podem até deixar de fazer parte das nossas vidas, que não contam assim tanto. As pessoas que realmente contam, as que nos amam, as que tem carinho por nós, podem até emitir uma opinião, mas não julgam. Se o fizerem, devemos chamar a atenção para isso, alertar para o facto de assim não nos estarem a ajudar.
Se eliminarmos todo este ruído, sobra-nos então a verdadeira voz, a que devemos sempre ouvir: a interior. Não é fácil desmaterializá-la de tudo o que a perturba e não a deixa clara, mas todos sabemos reconhecê-la. A maior parte das vezes nem é de uma voz que se trata, é apenas algo que sentimos.
Ao deixar que se manifeste, podemos entrar em grandes conflitos pois estávamos habituados a lidar com as situações de outra forma, mas sabemos que o benefício de fazermos o que sentimos é grande e a sensação de paz interior facilmente se instala neste caso.
A dificuldade vem por não conseguirmos justificar aquela sensação, por não ter um suporte lógico, por não ser coerente com as evidências. Não conseguimos perceber a origem daquela sensação se tudo o que presenciamos com os sentidos físicos nos indica o contrário.
Se estivermos atentos, se analisarmos as situações e compararmos o que sentimos com o que fizemos realmente, se confrontarmos o desenrolar dos acontecimentos e consequências com as sensações interiores, conseguimos distinguir a verdade do que sentimos.
O fundamental é sentirmo-nos em paz nessas decisões da vida, mas muitas vezes não conseguimos essa paz, porque não fizemos o que sentimos que devíamos ter feito, porque naquele momento não tinha lógica, não fazia sentido. A sensação de paz só se instala quando a consciência não pesa, quando não há conflitos interiores, quando há acordo entre o que sentimos e o que dissemos ou fizemos.
Não é assim tão difícil lá chegar, mas é preciso mesmo eliminar o julgamento, a opinião dos outros, a lógica, as regras, os conceitos e os preconceitos, e saberemos aí identificar a verdade do que sentimos pela consequência da paz interior.”
Fernanda Cruz