“A tolerância é o ato ou efeito de tolerar e tolerar, segundo o dicionário, é permitir, deixar passar, aceitar, admitir, consentir.
A tolerância está nas palavras e sentimentos nobres e implica amor. Mas será que devemos ser assim tão tolerantes com tudo e com todos? Não será mais razoável colocar limites nisto, para nosso bem e para bem dos outros?
Há muitas palavras que devem ser bem explicadas e devemos pensar em cada uma antes de adquirirmos como verdade o que está a ser transmitido. Dizem-nos que temos de ser tolerantes, de compreender, mas muitas vezes o que se está passar é um absurdo, é incompreensível e tentar compreender algo assim só poderia fazer mal. Reagir com agressividade nunca é uma boa alternativa mas há de facto coisas que não podemos nem devemos aceitar, para nosso bem e até para bem daquele que está a praticar os atos para os quais devíamos ser tolerantes.
Não posso sujeitar o outro à minha verdade, nem achar que a razão está sempre do meu lado, mas por vezes demonstra mais amor aquele que não tolera algo do que aquele que tolera tudo. Por vezes o não tolerar apenas encobre o inconformismo perante a fraqueza do outro.
Sendo eu muito sensível ao íntimo dos outros seres, às suas essências, passo por situações destas. Não aceitar o comportamento de um ser que sinto que é capaz de muito mais e melhor, é a minha forma de lhe dizer que acredito que ele é mais do que está a mostrar. E não é isto que fazemos com as crianças? Sabemos que são capazes de fazer melhor, de fazer de outra forma e não nos cansamos de lhes lembrar, porque eles ainda não sabem.
Aceitar tudo pode perigosamente deslocar-se para um "deixa andar" que não é saudável. A intransigência tem o seu papel na vida social. Devemos ser fortes o suficiente para marcar limites, principalmente quando se trata de nós, de nos defendermos de ataques físicos, verbais ou energéticos. O amor próprio deve estar sempre presente e este cria naturalmente as muralhas de defesa contra essas investidas, umas mais, outras menos conscientes.
Quem tem amor próprio dificilmente se sente e vê como vítima e isto deve ser ensinado a todas as crianças para que seus alicerces no futuro sejam sólidos. O "coitadinho" é uma figura a eliminar, principalmente se se trata de autocomiseração. Deve-se sempre atuar ao primeiro sinal deste sentimento em nós e nunca o ter para com os outros.
Se gosto de alguém, se aceito esse alguém na minha vida, aceito-o como é, não o tento mudar nem adaptar a mim. Mas se entendo que todos nós estamos sempre em constante evolução e se o ritmo é cada um que o impõe, é claro que quero tanto a minha como a daqueles de quem gosto. Nada nos é imposto quanto às companhias, podemos escolhê-las, podemos aceitá-las e rejeitá-las. É uma forma de amor rejeitar uma determinada pessoa num determinado momento se, por exemplo, ambos estão a passar por uma fase em que se magoam mutuamente e há sentimentos que só se compreendem na ausência do outro.
O ser humano é muito complexo por isso em cada palavra e atitude devemos analisar o que nos move, se a intenção é o bem e principalmente se nessa intenção há amor. Assim deve-se agir pois mesmo que isso não cubra tudo com a certeza do certo, só iremos influenciar o outro se ele permitir, mas a nossa parte, quanto ao que a nossa consciência manda, fica feita.”
Fernanda Cruz