Encontras-me em ti

 

Todos os escritos são da autoria de Fernanda Cruz

Ferrari na montanha

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“Escrevi nas minhas palavras que sensibilidade é a faculdade de sentir as energias mas não expliquei que energias são estas.

Todos nós sentimos as energias, pelo menos aquelas que vem através dos sentidos. O frio, o calor, a luz, a eletricidade, e tantos outros poderiam ser dados aqui como exemplo, e mesmo assim a lista não estaria completa. Tudo é energia, nós somos energia.

Mas a sensibilidade às energias a que me referia é aquela cuja perceção não passa pelos cinco sentidos, é extrassensorial. Todos sabemos que isto existe e sabemos porque temos perceção delas, uns mais e outros menos, variando também o que é percetível a cada um. A intuição e o sexto sentido que tanto nos ajudam é à sensibilidade que devemos. Vejo-a sempre como manifestação do espírito que tem capacidades incalculáveis.

Entendo que para além dos maravilhosos 5 sentidos, temos "sensores" energéticos que podem estar mais ou menos capacitados e direcionados. Estes existem em todos mas podem estar adormecidos. Quem decide isto somos nós próprios mas as escolhas nem sempre são conscientes.

Há pessoas que nem sabem que são sensíveis. Eu por mim falo. Agora consigo ver as coisas desta forma mas durante a maior parte da minha vida achei que todos eram como eu e "exigia" aos outros as leituras que eu fazia sobre alguém ou uma situação. Não me apercebia que o que era óbvio para mim, não era por factos nem por análise destes, era porque sentia. Foram muitas as discussões em que me meti por causa disto. Era muito pouco o que batia certo. Todos viam uma determinada pessoa, baseando no comportamento, como má, e eu via-a com boas intenções, ou todos viam uma boazinha e eu via uma pessoa vazia de amor; onde uns viam que um determinado acontecimento era mau, eu via que era bom para os envolvidos. Mais uma vez são muitos os exemplos que podia dar.

Então eu achava mesmo que o mundo estava contra mim, que todos faziam questão de dizer o contrário do que estavam a sentir, quase como aqueles que vão em sentido contrário na autoestrada e acham que quem está errado são todos os outros. Mas neste caso eu não estava errada, tinha era dados que os outros não tinham, ou uma ferramenta: a sensibilidade.

Bati a muitas portas para me tentar perceber e apareceram oportunidades que agarrei. Explicaram-me então que realmente eu não estava errada, usava era um veículo que não estava adequado à realidade da maioria, para chegar às conclusões que chegava. Disseram-me algo do género: se tens um Ferrari, não o deixes estacionado na garagem, mas não esperes que seja a melhor opção usá-lo na montanha. Nem sei muito bem como encaixar esta frase mas o certo é que isto foi o necessário para perceber o que estava aqui envolvido. A partir daquele momento e através daquela ideia percebi o que se passava e percebi também que embora as conclusões fossem certas, os meus argumentos eram inválidos, não tinha factos para os provar, se estava a falar por uma realidade que não era a dos outros. Passei então a agir de outra forma e a compreender melhor os outros e suas leituras e a sentir-me mais em paz.

Ser sensível é sentir as intenções para além das palavras, das ações e dos comportamentos, no que se refere às pessoas. É sentir a natureza muito para além dos cheiros, das cores, das formas, dos gostos. É sentir a presença de alguém, não porque nos lembramos, mas porque essa pessoa se lembrou de nós. É receber em vez de projetar. É ver de olhos fechados, e ouvir no silêncio. É apreender sem raciocínio, nem explicação. É não ter resposta para o "Como é que sabes?".

Há quem consiga comunicar das mais variadas formas com os espíritos e isto não é uma crença, é uma questão de se informarem para saber que está cientificamente provado e o termo usado é mediunidade. Mas mesmo sem comunicação ostensiva, estas energias interagem connosco assim como nós interagimos uns com os outros. Somos todos espíritos, uns com corpo e outros sem corpo, mas todos com campos e vibrações energéticas em interação constante. Há muita relutância em falar-se em espíritos mas se falarmos no anjo da guarda, que também é um espírito, ninguém reage mal...

Todos tem sensações físicas de energias que não são identificadas pelos sentidos. Quem é que nunca se arrepiou num determinado momento, sem que seja por ter frio? Duvido que haja muitas pessoas que respondam afirmativamente a esta pergunta. Mas se calhar nunca se perguntaram a que se deve este arrepio. Se é ao ouvir uma música, por exemplo, é por essa música vir gelada que causa arrepio? Se é pela presença de uma pessoa, é porque a pessoa está muito fria? Se é por entrar num lugar estranho, é por esse lugar estar frio? Claro que não, é porque somos sensíveis, porque há coisas que nos tocam no espírito e o corpo reage ao espírito e aos outros espíritos e energias. O arrepio que não é de frio, é manifestação no corpo do espírito que somos, em ação e em reação.

Ah, só mais uma coisa, não acreditem que sensibilidade é sinónimo de fraqueza. A história da humanidade está feita e escrita pelos sensíveis, pelos que viram para além do físico e do material, pelos que questionaram, pelos que acreditaram em algo que não era óbvio para mais ninguém. Esta associação foi feita porque por vezes não é fácil lidar com a sensibilidade e porque muitos que são sensíveis, encobrem-no e são por vezes os primeiros a chamar fracos àqueles que identificaram como semelhantes, porque também eles acreditaram nisto e agiram assim.

Quando sabemos que um alimento nos faz mal, tomamos uma série de cuidados: ou não comemos mais, ou comemos, mas mais espaçadamente ou em menor quantidade. O que é importante é estar atento e identificar o que nos fez mal. Com a sensibilidade acontece o mesmo. O importante é estarmos conscientes, conhecermo-nos o melhor possível para sabermos o que nos faz mal, mas também para levar ao máximo o que nos faz bem.

Não guardem o Ferrari na garagem, aprendam a conduzi-lo e a tirar o melhor rendimento.”

 

 

Fernanda Cruz

 

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