“Ninguém aprende a ser educador e normalmente a experiência que temos é apenas a nossa própria. Pelo que gostávamos que tivessem feito de outra forma conosco, já identificamos o que podemos fazer diferente, não cometendo os erros que apontamos.
Enquanto crianças, o que mais gostamos ou não gostamos nos adultos?
Se calhar é por esta pergunta que deveríamos começar para saber como agir com os seres que passaram a fazer parte das nossas vidas, sejamos nós os pais, os avós, os primos, os tios, os professores, os amigos, os vizinhos ou apenas os que com eles se cruzam a cada instante. Não é preciso sequer termos uma criança ao nosso cuidado para pensar nisto pois convivemos com elas das mais variadas formas.
Estes seres, ainda que de aparência frágil, podem trazer consigo muita informação, pois já ninguém acredita que tudo o que sabemos aprendemos pelos sentidos. Trazem também o instinto de sobrevivência, aquele que os faz chorar quando algo não está bem. Trazem ainda "sensores" que lhes permitem sentir as emoções dos que os rodeiam e basta observá-los para chegar a esta conclusão. Uma pessoa nervosa e uma tranquila que peguem num bebé a chorar da mesma forma, terão com certeza resultados diferentes.
Claro que nem todos têm a mesma perceção, tal como os adultos também não têm, mas captam muito mais do que se possa pensar. Enquanto bebés, eles não observam ou cogitam sobre o comportamento dos que os rodeiam, sentem-nos.
Estamos constantemente a influenciá-los pelos nossos estados de alma, pelas nossas emoções, muito mais do que pelo nosso comportamento. Vêm todos sedentos de amor e é essa a energia que mais procuram. Mas o instinto está lá e através dele começam a ganhar as primeiras defesas, as primeiras interferências ao que realmente são. Aprendem que é pelo choro que conseguem tudo e este comportamento transforma-se rapidamente em birras que nada tem a ver com o alerta para as necessidades, causa primária desse choro.
Cabe aos adultos inverter este padrão, demonstrando que esse comportamento já não serve quando já sabem falar e mostrar o que os perturba. Nos momentos de choros, de birras e maus comportamentos, de nada adianta entrar na sua sintonia e fazermos a nossa própria birra com eles.
Deve-se mostrar a reprovação a essas atitudes, e principalmente fazê-los perceber, serenamente, que perceberam o que se está a passar, permanecendo acima daquela sintonia. E o melhor mesmo é ir sempre pelo outro lado, pelo do amor e da compreensão e nos momentos em que estão bem, alegres, carinhosos, salientar ao máximo essas qualidades e estados de espírito, mostrando o quanto isso faz bem não só a eles mas a toda a família. Eles vão instantaneamente sentir que é verdade, porque estão a sentir esse bem estar. Nesses momentos de lucidez e calma, pode-se então dizer, a par do que gostaram, que ficaram preocupados com o comportamento que tiveram anteriormente, porque fez mal a todos, mas principalmente ao que o protagonizou e, porque não, levar a preocupação até ao que motivou tudo.
Desdramatizar o mais possível a situação, trazendo ambos os pontos de vista a um entendimento e fazer brotar o amor é o mais importante. Mostrar que estão atentos e que se preocupam e mostrar-lhes o melhor deles é fundamental para que criem uma estrutura sólida de amor-próprio e de confiança, levando as ligações e afinidades muito além das familiares e sociais. Se agirem assim com eles enquanto se formam, assim eles agirão com os outros.
Isto não é válido só para as crianças, mas para todos. Devemos sempre realçar as qualidades ou aquilo que mais gostamos no outro. A tendência é fazer o contrário, é nos momentos bons ir buscar momentos e situações desfavoráveis, é ir constantemente buscar aquilo que magoou.
O desafio é grande mas com uma pequena experiência se pode ganhar a motivação necessária para inverter toda a situação e tornar a vida mais harmoniosa, se os primeiros beneficiados somos nós próprios.
Crianças, adolescentes ou adultos, somos todos seres à procura de amor e de paz, ainda que por vezes nos desfoquemos do que precisamos realmente.”
Fernanda Cruz