“Sei que este assunto é quase tabu, embora ainda não tenha percebido porquê.
Fala-se mais depressa de distúrbios mentais do que de empatia quando se refere alguém que tem variações de humor, aparentando diferenças de personalidade.
Os empáticos não são mais do que seres que sentem a energia de outras pessoas, situações e lugares, não descodificando que isso não é um estado deles mas antes algo que estão a absorver do exterior. A sensibilidade e mais precisamente a empatia são características que podem jogar muito a favor de quem as possui.
Como referi no propósito do blog, não falo de teorias mas da minha própria experiência. Como tal, estou a abordar este assunto por me identificar com os empáticos, embora tenha conseguido ultrapassar o lado negativo e já não tomo como meus outros estados e energias, ficando-me apenas pela sensibilidade, que é muito mais extensa e cobre muitos mais campos do que se possa imaginar. A empatia é apenas uma faceta da sensibilidade.
Eu era empática mas não sabia, nem sabia que isso existia e muito menos que tinha nome (nas traduções usam "empatas" mas prefiro empático). Estou a dar este nome porque me esbarrei há pouco tempo com um artigo que falava deste tema, identificando uma série de fatores, pois já existem vários países mais liberais a explorar muitos temas relacionados com a sensibilidade. O problema desses artigos é que me parecem ser escritos por quem não viveu isso na primeira pessoa. Quando comecei a ler sobre o assunto já tinha ultrapassado todas as limitações, sozinha.
Defendo o autoconhecimento como o maior poder contra todos os distúrbios psicológicos, emocionais e mentais, incluindo a depressão. Quem se conhece a si mesmo, identifica os inícios de cada distúrbio e atua para não deixar que passe de um início. Foi pelo autoconhecimento que comecei a identificar o que era sentimento meu e o que não era. A empatia fazia-me ser, por exemplo, a mais desequilibrada nos funerais, por sentir a dor não de um mas de todos os familiares, ainda que não conhecesse o defunto, mas também me trazia um estado de alegria extrema quando estava rodeada de boa disposição. O problema é que eu não sabia que aquele sentimento não era meu e ficava confusa pela mudança de humor repentina. Poderia dar muitos exemplos: numa altura em que estava triste, se fosse a um convívio com pessoas bem dispostas já me sentia muito alegre e pensava ter superado a tristeza mas depois esta voltava, ou numa altura em que até me sentia bem e era exposta a alguém que estivesse nervoso, a minha felicidade era substituída por esse nervosismo. Isto é muito perturbador e criava conflitos constantes comigo mesma.
Houve uma altura em que comecei a olhar mais para dentro, a tentar perceber quais os motivos que me tinham despertado mudança de humor e verifiquei que não existiam. Comecei então a reparar que era sensível à energia dos outros e depois foi só juntar dois mais dois. O mais difícil é identificar e tomar consciência disto. A partir daqui vai-se, pela experiência, fazendo a exclusão de partes do que é ou não nosso em termos de estados de alma e emocionais.
Quando eu agora identifico que alguém está triste, não entro nessa tristeza, porque não é minha, não tenho motivos para isso. O que faço numa situação destas é tentar manifestar a minha verdadeira energia para contagiar o ambiente e tornar mais agradável o local, ajudando até a pessoa que estava triste.
A situação por vezes complica-se um pouco mais. Muita gente tem tendência de aparentar um estado que não é coerente com o que está a sentir. Pode acontecer de se estar perto de uma pessoa aparentemente alegre mas que o seu verdadeiro estado de alma é tristeza. Nestes casos o empático não sente a alegria da aparência, sente o estado de alma e pode ficar confuso se se basear só no que está a observar. A tristeza é apenas um exemplo, mas podia falar aqui de qualquer outro estado como raiva, rancor, apatia, felicidade, alegria, etc.
Costumo trocar os verbos ser e estar em alguns casos e esta frase é um deles: eu estou humana e sou atenta. A atenção, para os sensíveis tem de ser uma característica e não uma circunstância. Há quem considere a sensibilidade uma fraqueza mas se soubermos lidar com ela, se aprendermos a extrair todo o seu potencial, esta pode tornar-se quase num "super-poder".”
Fernanda Cruz