“O que estranho no meio de tudo isto? Acreditar cada vez mais que “Virão dias mais doces”, ou como diz a música do Eddie, acreditar num “futuro pavimentado com dias melhores”. E como posso não acreditar se eu própria, com todos os tropeços e pancadas, estou mais doce, modéstia à parte. Cada contrariedade passa rapidamente a desafio e o seu resultado: aprendizagem.
O sofrimento costuma endurecer as pessoas, enche-as de mágoas, fá-las sentir injustiçadas e revoltadas. Eu sei porque já passei por isso. Agora o sofrimento é apenas o degrau onde ponho o pé que me vai elevar um pouco mais e a partir desse momento já não sofro porque estou um pouquinho mais acima. Estas subidas não são todas iguais, umas são maiores outras apenas de milímetros mas cada uma me leva onde o ar é mais puro, a visão mais limpa, o som mais nítido, as sensações mais fortes e os sabores da vida tem outra dimensão.
A partir do momento em que reconheço, aceito e encaro como desafio, a situação que se apresenta, tudo se torna mais fácil. O difícil, muitas vezes é o primeiro passo: reconhecer. Não consigo fazê-lo sempre, ou pelo menos de imediato. Estou humana, perdoo-me por isso.
Mas não supero sozinha, tenho sempre a ajuda dos meus anjos e guias que eu chamo a cada amanhecer e agradeço antes de dormir.
Aumenta a fé e com ela a escadaria a subir. Tropeço no primeiro degrau porque nem sabia que estava ali, ou porque não estava a última vez que olhei, ou porque estava distraída e não vi. Ao cair já estou em cima dele. Às vezes choro pela queda mas fico atenta e preocupo-me em me levantar rapidamente para ter a noção da sua altura. Avisto o próximo e estou atenta, confiante que depois do último já não vou cair, já vou saber subir sem cair, sem sofrer. Mas este novo apresenta-se escorregadio, não estava a contar, escorreguei. Desta vez não me magoei mas sujei-me. Enquanto me sacudo, equaciono as proteções que terei de usar para subir os próximos. Há sempre degraus novos, com fatores novos que exigem maior proteção, mais atenção e preparação.
São degraus difíceis onde me magoo, sujo, choro, mas elevam-me sempre um pouco mais. De vez em quando aparece um patamar, um pátio de descanso de repouso mas muito mais de preparação para a próxima etapa, cheia de novidades e desafios.
Acredito que fui eu que escolhi assim, apenas não me lembro, porque estou humana. Fui eu própria que me propus porque nessa altura sabia que era capaz. Agora duvido muitas vezes e as minhas maiores tristezas momentâneas, os meus choros espontâneos, não são desequilíbrios como me querem fazer acreditar, são essas dúvidas. São os momentos em que a certeza da minha intuição é abalada pela razão que acredita em impossíveis, que põe limites em tudo. É esta a minha maior luta. A intuição e o sexto sentido sempre atentos aos meus anjos e guias, sempre a aumentar a minha fé e a dizer-me que não há impossíveis. A razão a perguntar como?, a agarrar-se aos factos, ao visível, ao provável.
Já se moveram da minha frente as montanhas do impossível. Ainda assim, com toda a fé que tenho e provas que já tive, aparecem a lógica e a razão, arrastadas pelo medo da ilusão. Isto magoa-me, magoo-me a mim própria por este motivo. Mas Deus é infinitamente bom e tem paciência comigo porque sabe a minha intenção e a minha luta interior. Sabe que estou humana e vai-me dando estas doces demonstrações de que a minha intuição e a minha fé são o meu caminho e que os obstáculos que dão lugar a desafios são necessários para que treine e me ponha à prova. Doces apenas por serem confirmações que eu tanto procuro, por todo o lado, pois a forma como chegam é por vezes muito amarga. A verdade é o maior bem que se pode ter e a mentira o pior mal.
Agradeço muito aos meus anjos e guias sempre aqui por perto. Sinto-os e ajudam-me tanto. Há uns que estão vestidos de humanos, e me dão o que preciso ouvir em frases sem fim de ideias e ensinamentos camufladas de poucas palavras e pontuações precisas, ou então num simples olhar. A fé vem de dentro de mim mas a esperança vem deles, do que dizem, dos seus olhares, de como me compreendem. São presentes de Deus.
Tenho muito a agradecer, como alguém já disse “Por ter sofrido e continuar tão docemente”, pelo menos comparando com o que já fui.”
Fernanda Cruz